18 de Maio de 1973
Querido diário,
Ontem tivemos que sair de Angola. Angola está em guerra pela independência e as coisas estão más por lá.
Embora não corrermos risco de vida diretamente... pois damos-nos bem com toda a gente e somos bem tidos por todos os nativos... meu pai achou melhor sairmos enquanto as coisas não acalmarem. Ninguém nos faria mal, mas podíamos correr o risco de sermos atingidos no fogo cruzado.
Nós estávamos numa coluna militar constituída por três camiões militares e vários carros civis (um dos quais o nosso). Derrepente um carro civil mais à frente foi bombardeada e um mais atrás também. O meu pai decidiu sair da coluna militar, pois teríamos maior chance de sobrevive se fossemos sozinhos. Ultrapassou a coluna militar e tentou seguir sozinho. Mas o camião militar que ía na frente da coluna militar apontou nos as armas. Meu pai parou e foi falar com os militares. Assinou um termo de responsabilidade e seguimos sozinhos na frente da coluna. Afastamos-nos o mais depressa possível da coluna militar.
Atravessamos a fronteira com Namíbia já a noite estava a cair. Paramos num Restaurante e decidimos pernoitar aí. Meu pai falou com o dono do estabelecimento que aconselhou que meu pai escondesse o carro num barracão que tinha atrás do restaurante e nos dormimos mesmo no carro.
Estávamos a tomar o pequeno almoço no restaurante quando chegou um dos camiões militares. Quando viram meu pai, vieram ter com ele e disseram lhe que foi o melhor que ele fez, foi seguir sozinho. De três camiões militares e duas dezenas de veículos civis... só eles sobreviveram. Ficou tudo pelo caminho. Estavam todos mortos.
Meu pai já tem contrato para trabalhar numa empresa na África do Sul, em Joanesburgo, como Engenheiro Eletrônico, a dar formação aos quadros técnicos da empresa. E é para lá que vamos.
Irene Cruz
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