Vida infernal.


     "Eu não tenho sorte mesmo!", pensou Vera. Vera Fénix sempre teve de lutar, e muito, para que um raio de sol se dignasse a tocar, ao de leve, na sua pele.
     A sua vida, até à data, tem sido uma maratona, uma montanha russa, uma roleta viva... Nada lhe veio ter às mãos de forma fácil. E,  pelos vistos, esta maratona infernal está para durar. 
     Vera já perdeu a conta de quantas vezes se viu obrigada a começar do zero. Só esperava que esta fosse a última vez. "Já não tenho idade para estas duras batalhas pela sobrevivência!".

     Há 16 anos atrás, em má hora se casou. O que ao início parece ser um pedido de casamento romântico... revelou ser uma grande armadilha. Uma semana depois, uma outra faceta daquele romântico incurável se revelou. E o que prometia ser um casamento de sonho, virou um terrível pesadelo. 
     Francisco começou a beber de caixão à cova, e os insultos e humilhação públicas começaram a ser uma rotina diária. Até lhe alevantou a mão para lhe bater... mas logo percebeu que era má ideia. Vera não é, nem nunca foi uma flor de estufa. Se aquela mão lhe tocasse... ela podia ficar marcada, mas ele não ficaria melhor. Vera lançou lhe um olhar cheio de fúria. O olhos de Vera eram dois poços negros a soltarem faíscas das suas profundezas abismais.
     Francisco baixou a mão dando dois passos atrás. Depois a resmungar saiu de casa. Adivinhem para onde! Para a tasca da vila. Como se já não tivesse suficientemente bêbado. 
     Vera até tentou sair desse nefastou casamento, para ver a sua família a ser perseguida e ameaçada de morte.

     - Ou tu voltas já para casa comigo, ou eu mato a tua mãe, a tua irmã e o cão dela e ateu fogo à casa delas. - e ele falava sério. Vera sábia bem disso. 

     Vera decidiu que, para o bem da sua família, era melhor que ela ficasse do lado desse monstro. Ao menos lá podia controlar as idas e vindas dele e impedi-lo de matar a sua família. 

     Uma semana depois, Vera sobe que estava grávida de cinco semanas. Uma gravidez gemelar. A única coisa boa a surgir deste enlace. 
     Francisco não parecia muito satisfeito. Ele não queria mais filhos. Já tinha dois dum primeiro casamento. Mas Vera não estava nem ai. Ela estava demasiadamente feliz para se preocupar com o seu desconforto. 
     Às 35 semanas e 4 dias as gémeas Sofia e Helena nasceram. O dia mais feliz da vida de Vera. Passou a dedicar-se exclusivamente com o bem estar das suas filhas ignorando as constantes bebedeiras e provocações de Francisco.
     Seis anos depois Francisco sofreu um acidente de viação sobre o efeito do álcool e embora não fosse o culpado do acidente em si, foi condenado a um ano sem carta e a pagar uma multa 3'500,00€ e as despesas judiciais de quase outro tanto. Estava fulo. 😹😹😹. Ainda por cima o carro foi para a sucata e teve de comprar um outro carro do próprio bolso.

     Nove anos passados do dito acidente, na noite de Natal, sofreu um outro acidente. De novo sobre a influência do álcool. Mais uma vez, mesmo que as perícias não lhe atribuíam a culpa do acidente... como estava sobre o efeito do álcool...
     Pior que isso, foi que por conta do alcoolismo dele, o novo ano começou com a CPCJ a arrancar as gémeas dos braços de Vera sem aviso prévio e ä força. Vera considerou esse ato um rapto puro e simples. E eu, como mãe, sou obrigada a concordar. Levaram lhe as filhas e estiveram a cagar-se para o que acontecesse à Vera ou à família dela. Se ele as matasse... não estavam nem aí. Nem sequer providenciaram apoio psicológico para Vera e a família, que também eram vítimas nessa história toda. Francisco ameaçava de morte a família de Vera, humilhava Vera publicamente... isso não é violência doméstica? Pelos vistos, para a "justiça" portuguesa e para a CPCJ, não.

     Se Vera quer ver as suas filhas de volta nos seus braços... vai ter de começar do zero, sozinha. Não pode contar com ninguém. A única família que lhe resta, para além de suas filhas, está muito doente e tem uma reforma por doença, miserável, de apenas 300,00€/mês. Não lhe podia valer e nem Vera, desempregada, sem um tostão a seu nome teria coragem de esperar alguma coisa dela. "Ela nem tei, para seu sustento, quanto mais para me sustentar.  Estou sozinha nesta batalha. Nem Deus está do meu lado. Estou sozinha, e só posso contar comigo mesma.", pensa Vera.

     Vera tem de arregaçar as mangas e ir à luta. Sozinha. Não pode confiar em ninguém. Não pode contar com ninguém. Sem um tostão no bolso, vai ter de fazer pela vida. Que o destino a ajude porque com Deus, já sabe que não pode contar... se é que ele existe... é homem... Está tudo dito. Como é que podemos contar com um ser que foi capaz de assistir à tortura e assassinato do próprio filho e não fazer nada. A desculpa é salvação da alma humana. Os humanos que se lixem. Um/a filho/a está acima de tudo. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Menina do mar

18 de Maio de 1973

Meu filho